sábado, 23 de fevereiro de 2008
A CIDADE
A cidade é um chão de palavras pisadas
a palavra criança a palavra segredo.
A cidade é um céu de palavras paradas
a palavra distância e a palavra medo.
A cidade é um saco um pulmão que respira
pela palavra água pela palavra brisa
A cidade é um poro um corpo que transpira
pela palavra sangue pela palavra ira.
A cidade tem praças de palavras abertas
como estátuas mandadas apear.
A cidade tem ruas de palavras desertas
como jardins mandados arrancar.
A palavra sarcasmo é uma rosa rubra.
A palavra silêncio é uma rosa chá.
Não há céu de palavras que a cidade não cubra
não há rua de sons que a palavra não corra
à procura da sombra de uma luz que não há.
José Afonso (02.08.1929-23.02.1987)
Como já tinha homenageado o Zeca por outras paragens não me quis repetir. Acontece que encontrei por aí este poema e não resisti, é um dos meus preferidos do Zeca.
Foto: Pode não ser grande coisa mas é minha.
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9 comentários:
é mesmo de não resistir...
a mim parece-me excelente!
Lindo poema, mesmo e a foto também é bonita:)
Beijos
A cidade que tanto tem para dizer na sua rotina diária, invadida por multidões numa azafama constante. Grande Zeca.
Abração grande
Miguel
ainda bem que decidiste fazer a tua própria homenagem, porque o poema é muito bonito!
grande abraço, André.
Luís Galego:
Este poema é mesmo irresistível.
Um abraço.
Noivo e Gitas:
Muito obrigado a ambos.
Templo do Giraldo:
Já vou dar um pulinho aí a Évora.
Obrigado
Algbiboy:
O que as cidades nos diriam se falassem a nossa língua. Elas têm tanto para dizer e nós não as compreendemos, por isso são tão maltratadas por nós cidadãos portugueses.
Um abraço.
André Benjamim:
Não me queria repetir na homenagem, pois já o tinha feito noutro blogue. Felizmente encontrei este poema que também já tinha passado pelo outro lado.
O Zeca merece todas as homenagens.
Um abraço.
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