domingo, 13 de abril de 2008

O BEIJO

Sabiam que hoje, 13 de Abril, é o Dia do Beijo?

Entras como um punhal
até à minha vida.
Rasgas de estrelas e de sal
a carne da ferida.

Instala-te nas minas.
Dinamita e devora.
Porque quem assassinas
é um monstro de lágrimas que adora.

Dá-me um beijo ou a morte.
Anda. Avança.
Deixa lá a esperança
para quem a suporte.

Mas o mar e os montes…
isso, sim.
Não te amedrontes.
Atira-os sobre mim.

Atira-os de espada.
Porque ficas vencida
ou desta minha vida
não fica nada.

Mar e montes teus beijos, meu amor,
sobre os meus férreos dentes.
Mar e montes esperados com terror
de que te ausentes.
Mar e montes teus beijos, meu amor!…

Fernando Echevarria


Ai, como eu te queria toda de violetas
E flébil de cetim…
Teus dedos longos, de marfim,
Que os sombreassem jóias pretas…E tão febril e delicada
Que não pudesses dar um passo -
Sonhando estrelas, trantornada,
Com estampas de cor no regaço…

Queria-te nua e friorenta,
Aconchegando-te em zibelinas -
Sonolenta,
Ruiva de éteres e morfinas…

Ah! que as tuas nostalgias, fossem guizos de prata -
Teus frenesis, lanjoulas;
E os ócios em que estiolas,
Luar que se desbarata…

………………………………………………………………..

Teus beijos, queria-os de Tule,
Transparecendo carmim -
Os teus espasmos de seda…

- Água fria e clara numa noite azul,
Água, devia ser o teu amor por mim…

Mário de Sá-Carneiro





Quanto, quanto me queres? - perguntaste
Numa voz de lamento diluída;
E quando nos meus olhos demoraste
A luz dos teus senti a luz da vida.

Nas tuas mãos as minhas apertaste;
Lá fora da luz do Sol já combalida
Era um sorriso aberto num contraste
Com a sombra da posse proibida...

Beijámo-nos, então, a latejar
No infinito e pálido vaivém
Dos corpos que se entregam sem pensar...

Não perguntes, não sei - não sei dizer:
Um grande amor só se avalia bem
Depois de se perder.

António Botto

Tu choravas e eu ia apagando
com os meus beijos os rastos das tuas lágrimas
– riscos na areia mole e quente do teu rosto.
Choravas como quem se procura.
E eu descobria mundos, inventava nomes,
enquanto ia espremendo com as mãos
o meu sangue todo no teu sangue.
Não sei se o mundo existia e nós existíamos realmente.
Sei que tudo estava suspenso,
esperando não sei que grave acontecimento,
e que milhares de insectos paravam e zumbiam nos
meus sentidos.
Só a minha boca era uma abelha inquieta
percorrendo e picando o teu corpo de beijos.
Depois só dei pela manhã,
a manhã atrevida
entrando devagar, muito devagar e acordando-me.
Desviei os meus olhos para ti :
ao longo do teu corpo morriam as estrelas.
A noite partira. E, lentamente,
o sol rompeu no céu da tua boca.

Albano Martins

Teus olhos, borboletas de ouro, ardentes
Borboletas de sol, de asas magoadas,
Pousam nos meus, suaves e cansadas
Como em dois lírios roxos e dolentes…

E os lírios fecham… Meu amor não sentes?
Minha boca tem rosas desmaiadas,
E as minhas pobres mãos são maceradas
Como vagas saudades de doentes…

O silêncio abre as mãos… entorna rosas…
Andam no ar carícias vaporosas
Como pálidas sedas, arrastando…

E a tua boca rubra ao pé da minha
É na suavidade da tardinha.
Um coração ardente palpitando…

Florbela Espanca


Um rapaz beijou-me ontem à tarde
E o seu beijo era um vinho perfumado
Tão longamente bebi nesses lábios o vinho do amor
que ainda agora me sinto embriagada.

Anónimo - Grécia (séc. I a.c.)
Trad. Jorge Sousa Braga




Morrer de amor
ao pé da tua boca


Desfalecer
à pele
do sorriso


Sufocar
de prazer
com o teu corpo


Trocar tudo por ti
se for preciso


Maria Teresa Horta

UM BEIJO A TODOS.

19 comentários:

João Roque disse...

Sucessão de poemas magnificos e de fotos maravilhosas; destas destaco a primeira e dos poemas, não porque sejam melhores, mas porque são de dois poetas que muito me dizem, os de António Botto e de Florbela Espanca.

Abraço.

TUSB disse...

Os poemas estão espectaculares, as fotos também e claro a musica para nos por no ambiente hehe, bela construção :D

André disse...

não fazia a minima ideia da existência deste dia! concordo com os belos poemas! os meus preferidos são os do Mário e os do António, dois poetas que muito admiro... olha, dava-lhes um beijo!

é suposto deixar um beijo?

Beijo. André

Anônimo disse...

Fabuloso post!
Parabén por ele:)
Beijos

SP disse...

"Tu choravas e eu ia apagando
com os meus beijos os rastos das tuas lágrimas"

Que poético!!!
Obrigado.
Um abraço...

Estrelaminha disse...

boa tarde, special K!
está lindo!!! fotos, poemas.
adorei.

Alma Nova ® disse...

Belos poemas e fotos muito bem escolhidas em homenagem a esse encontro único, quando verdadeiro, em que os lábios se encontram e as almas se provam.
Um abraço!

Socrates daSilva disse...

Beijos, beijos...
Há para todos os gostos e ocasiões. Mas, benditos aqueles que nos acendem uma luz na alma.
Abraço

Special K disse...

Pinguim, eu juntaria a Maria Teresa Horta. Uma mulher ter coragem de publicar aqueles poemas neste país é obra.
Um abraço.

Special K disse...

Obrigado Unfurry, poesia e música são duas coisas que não consigo prescindir.
Um abraço

Special K disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Special K disse...

André, foram dois grandes poetas. Julgo mesmo que se não fosse a orientação sexual do António estaria no panteão dos grandes poetas portugueses. Poucos cantaram o amor e o desejo como ele.
André, porque não deixar um beijo?
Aqui neste cantinho não há preconceitos desses.
Um beijo.

Special K disse...

Gitas, mais uma vez obrigado. Beijos

Special K disse...

Sp: Também adorei essa passagem, foi uma das razões de ter escolhido este poema.
Um abraço.

Special K disse...

Obrigado Estrela Minha. Um beijo.

Special K disse...

Alma Nova: "Os lábios se encontram e as almas se provam", Está optimo!
Um beijo.

Special K disse...

Sócrates, se este post te ajudou a acender uma luz na alma fico muito contente.
Um abraço.

Maria Papoila disse...

Fotos e poemas líndissimos, expressão máxima do beijo.

Um beijo "special" para ti.

Special K disse...

Obrigado Maria papoila, outro para ti.