S. Martinho de Anta, 17 de Setembro de 1945
DOURO
Cai o sol nas ramadas.
O sol, esse Van Gogh desumano...
E telas amarelas,calcinadas,
Fremem nos olhos como um desengano.
A cor da vida foi além de mais!
Lume e poeira, sem que o verde possa
Refrescar os craveiros e os tendais
De uma paisagem mais secreta e nossa.
Apenas uma fímbria namorada,
Vermelha e roxa, se desenha ao fundo
O mosto de uma eterna madrugada
Que vem do incêndio refrescar o mundo.
DOURO
Cai o sol nas ramadas.
O sol, esse Van Gogh desumano...
E telas amarelas,calcinadas,
Fremem nos olhos como um desengano.
A cor da vida foi além de mais!
Lume e poeira, sem que o verde possa
Refrescar os craveiros e os tendais
De uma paisagem mais secreta e nossa.
Apenas uma fímbria namorada,
Vermelha e roxa, se desenha ao fundo
O mosto de uma eterna madrugada
Que vem do incêndio refrescar o mundo.
Régua, 16 de Setembro de 1962
DOIRO
Suor, rio, doçura.
(No princípio era o homem ...)
De cachão em cachão,
O mosto vai correndo
No seu leito de pedra.
Correndo e reflectindo
A bifronte paisagem marginal.
Correndo como corre
Um doirado caudal
De sofrimento.
Correndo, sem saber
Se avança ou se recua.
Correndo, sem correr,
O desespero nunca desagua ...
Ferrão, 7 de Setembro de 1968
DOIRO
Corre, caudal sagrado,
Na dura gratidão dos homens e dos montes!
Vem de longe e vai longe a tua inquietação...
Corre, magoado,
De cachão em cachão,
A refractar olímpicos socalcos
De doçura
Quente.
E deixa na paisagem calcinada
A imagem desenhada
Dum verso de Frescura
Penitente.
Poemas: Miguel Torga
Fotos: Special K
7 comentários:
Belissima homenagem querido Amigo Special (One)... :)
Bela e merecida ... :)
Muito obrigada pela lembrança que tiveste ao ver o desfile de Vespas ... só tive pena de não estar lá ao teu lado de olho arregalado a ve-las passar !!!!
Beijoca encaracolamente enrrolada em amizade !!!!
Ah grande fotógrafo a homenagear o telúrico Torga! Parabéns a ambos!
Obrigado pelos poemas!
Um abraço! :-)
Belos oemas, embora os ache smpre "pesados" e bonitas fotos:)
Beijos
Também não me surpreendeu, dada a tua sesibilidade, que aqui, no teu cantinho, homenageasses Torga, com uma boa selecção de poemas seus.
As excepções, confirmam a regra, como sempre.
Abraço.
Deixei-te uma meia prenda no gitas:)))
Beijos
PS:Adoro esta música do Caetano;-)
Olá meus amigos, nunca poderia esquecer de homenagear Torga no seu centenário. è um escritor que me diz muito pois vivi 6 anos entre aquelas paisagens, duras e agrestes mas tão belas que ele descreve.
Um abraço a todos.
Também é um dos meus eleitos, justamente por causa da ligação à terra.
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