quarta-feira, 13 de junho de 2007

AL BERTO


Vigílias

Quando aqui não estás
o que nos rodeou põe-se a morrer

a janela que abre para o mar
continua fechada só nos sonhos
me ergo
abro-a
deixo a frescura e a força da manhã
escorrem pelos dedos prisioneiros
da tristeza
acordo
para a cegante claridade das ondas

um rosto desenvolve-se nítido
além
rasando o sal da imensa ausência
uma voz

quero morrer
com uma overdose de beleza

e num sussurro o corpo apaziguado
perscruta esse coração
esse
solitário caçador

Al Berto




As mãos pressentem a leveza rubra do lume
repetem gestos semelhantes a corolas de flores
voos de pássaro ferido no marulho da alba
ou ficam assim azuis
queimadas pela secular idade desta luz
encalhada como um barco nos confins do olhar

ergues de novo as cansadas e sábias mãos
tocas o vazio de muitos dias sem desejo e
o amargor húmido das noites e tanta ignorância
tanto ouro sonhado sobre a pele tanta treva
quase nada

Al Berto

Uma pequena homenagem ao poeta Al Berto, no dia em que se assinalam os dez anos da sua morte.

4 comentários:

Anônimo disse...

Ninguém, senão Al Berto, escreveria coisas assim. Merece ser recordado e amado nas entrelinhas, em toda a amplitude da sua poesia, da sua vida!

PintoRibeiro disse...

Wind, Al Berto, Casablanca...
Vim conhecer.
Bom dia.

wind disse...

Bela homenagem e é incrível como colocámos o mesmo poema, sem sabermos, nem termos comunicado.lol
Beijos

Sarracenia purpurea disse...

Hmmm, comprei numa feira da poesia que houve na minha terra`há pouco tempo um livro de Al Berto, "Lunário". No entanto ainda não tive oportunidade de o ler, e antes de ler o que aqui puseste ainda não conhecia nada dele. Gostei!
A ver se arranjo algum tempinho para aquele livro,
Beijos***