domingo, 28 de setembro de 2008

FECHARAM-SE PARA SEMPRE OS MAIS LINDOS OLHOS DO CINEMA

Paul Newman (25 Janeiro, 1925-26 Setembro, 2008)

QUEER LISBOA


Interrompo aqui a minha reclusão blogosférica para falar de mais uma excelente edição do Queer Lisboa.
À semelhança do ano passado não quis perder, a sessão de encerramento. Em exibição ia estar, precisamente, o filme vencedor da secção de longas-metragens do Festival.

Não esperava muito de "Antônia", mas o filme veio a revelar-se como uma grande surpresa.
A obra da cineasta brasileira Tata Amaral, conta-nos a história de "Antónia", uma banda de rap, constituida por quatro mulheres que vão ser obrigadas a enfrentar a pobreza, a violência e o machismo para levar avante o seu sonho.

Foi nesta categoria que eu vi a maior parte dos filmes, eis os meus preferidos:
"Chuecatown": Uma delíciosa e hilariante comédia sobre um agente imobiliário que assassina velhinhas no Bairro da Chueca, para depois vender os seus apartamentos a casais homossexuais com bom poder de compra.



"XXY": Um belíssimo filme sobre as angustias de Alex, uma adolescente hermafrodita, que começa a despertar para a sexualidade apercebendo-se ao mesmo tempo do preconceito da pequena localidade piscatória onde vive com os seus pais.



"Saturno Contro": Um filme intimista sobre um grupo de amigos que tenta vencer os seus problemas e superar a morte de um deles. Os traumas de uma geração que também é a minha, talvez por isso foi o meu filme preferido do Festival.

Na secção de Documentários a vitória foi para Darling - The Peter Dirk Uys Story e "69 - Praça da Luz" venceu na categoria melhor curta-metragem.

Nesta semana de cinema foi muito bom rever alguns bons amigos que me acompanharam em várias sessões: Um grande abraço aos dois meninos do felizes, ao Pinguim ao Engine (foi um prazer conhecer-te pessoalmente), ao Rui à Sara, Xana, ao J. e finalmente um abraço especial às meninas do Amorfemarte e ao S. por um grande final de noite no Maria Lisboa.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

ANTÍNOO


Era em Adriano fria a chuva fora

Jaz morto o jovem
No raso leito, e sobre o seu desnudo todo,
Aos olhos de Adriano, cuja cor é medo,
A umbrosa luz do eclipse-morte era difusa

Jaz morto o jovem, e o dia semelhava noite lá fora
A chuva cai como um exausto alarme
Da Natureza em acto de matá-lo.
Memória do que el´ foi não dava já deleite,
Deleite no que el´ foi era morto e indistinto.

Oh mãos que já apertaram as de Adriano quentes,
Cuja frieza agora as sente frias!
Oh cabelo antes preso p´lo penteado justo!
Oh olhos algo inquietantemente ousados!
Oh simples macho corpo feminino
qual o aparentar-se um Deus à humanidade!
Oh lábios cujo abrir vermelho titilava
os sítios da luxúria com tanta arte viva!
Oh dedos que hábeis eram no de não ser dito!
Oh língua que na língua o sangue audaz tornava!
Oh regência total do entronizado cio
Na suspensão dispersa da consciência em fúria!
Estas coisas que não mais serão.
A chuva é silenciosa, e o Imperador descai ao pé do leito.
A sua dor é fúria,
Porque levam os deuses a vida que dão
e a beleza destroem que fizeram viva.
Chora e sabe que as épocas futuras o fitam do âmago do vir a ser;
O seu amor está num palco universal;
Mil olhos não nascidos choram-lhe a miséria.

Antínoo é morto, é morto para sempre,
É morto para sempre, e os amor´s todos gemem.
A própria Vénus, que de Adónis foi amante,
Ao vê-lo então revivo, ora morto de novo,
Empresta renovada a sua antiga mágoa
Para que seja unida à dor de Adriano.

Agora Apolo é triste porque o roubador
Do corpo branco seu ´stá para sempre frio.
Não beijos cuidadosos na mamílea ponta
Sobre o pulsar silente lhe restauram
Sua vida que abra os olhos e a presença sinta
Dela por veias ter o reduto do amor.
Nenhum de seu calor, calor alheio exige.
Agora as suas mãos não mais sob a cabeça
Atadas, dando tudo menos mãos,
Ao projectado corpo mãos imploram.

A chuva cai, e el´ jaz
como alguém que de seu amor ´squeceu todos os gestos
E jaz desperto à espera que regressem quentes.
Suas artes e brincos ora são c´o a Morte.
Humano gelo é este sem calor que o mova;
Estas cinzas de um lume não chama há que acenda.

Que ora será, Adriano, a tua vida fria ?
Quão vale ser senhor dos homens e das coisas ?
Sobre o teu império a ausência dele desce como a noite.
Nem há manhã na esp´rança de um deleite novo;
Ora de amor e beijos viúvas são as tuas noites;
Ora os dias privados de a noite esperar;
Ora os teus lábios não têm fito em gozos,
Dados ao nome só que a Morte casa
À solidão e à mágoa e ao temor

Tuas mãos tacteiam vagas alegria em fuga
Ouvir que a chuva cessa ergue-te a cabeça,
E o teu relance pousa no amorável jovem.
Desnudo el´ jaz no memorado leito;
Por sua própria mão el´ descoberto jaz.
Aí saciar cumpria-lhe teu senso frouxo,
Insaciá-lo, mais saciando-o, irritá-lo
Com nova insaciedade até sangrar teu senso.

Suas boca e mãos os jogos de repôr sabiam
Desejos que seguir te doía a exausta espinha.
Às vezes parecia-te vazio tudo
A cada novo arranco de chupado cio.
Então novos caprichos convocava ainda
À de teus nervos, carne, e tombavas, tremias
Nos teus coxins, o imo sentido aquietado.



Fernando Pessoa (excerto)
Traduzido por Jorge de Sena a partir do original em inglês

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

AMIGOS BLOGUISTAS!


Meus amigos desculpem se não vos tenho visitado mas o tempo parece não chegar para nada.
Mesmo as postagens irão ser cada vez mais reduzidas.
Mas não pensem que vos esqueço, sempre que possível vou continuar acompanhar os vossos blogues via google reader.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

sábado, 13 de setembro de 2008

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

11 DE SETEMBRO


E lá passou mais um dia 11 de Setembro, uma data que ficará para sempre marcada como uma das mais negras da história da humanidade.

Foi há sete anos que um grupo de fanáticos cometeu o mais horrível atentado terrorista da história da humanidade. Estes acontecimentos despoletaram outras guerras, novos confiltos, mais ódio e muitas mais mortes. Tanta coisa que custa a crer que foi só há sete anos atrás.



Também no dia 11 de Setembro, mas de 1973, dava-se no Chile o golpe militar que viria a instaurar a sangrenta ditadura de Pinochet.
Foi nesse dia que as tropas cercaram o Palácio de La Moneda, sede do governo onde se tinha refugiado o Presidente Salvador Allende. A resistência era impossível, para evitar ser capturado, Allende preferiu o suicídio.
Teve mais sorte que muitos dos seus apoiantes que escaparam com vida e foram encarcerados no Estádio Nacional do Chile, transformado em campo de concentração.

Apesar de figurar ao lado de Hitler, Estaline e Pol Pot, na lista dos maiores monstros do século XX, Pinochet não deixou de ser considerado como um católico modelo, pelo Papa João Paulo II durante uma viagem oficial ao Chile em 1987.

Isto lembra-me que muitas pessoas, à esquerda e à direita, classificam as ditaduras de acordo com as cores políticas ou motivações religiosas.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

OK, FINALMENTE UM POST SOBRE A MADONNA!


Madonna é o grande nome deste ano, não só pelos seus 50 anos, como também pelo muito esperado regresso a Portugal.
Desde que voltei às lides blogosféricas que notei um aumento significativo de posts sobre sobre a cantora americana. Como já me estava a sentir marginalizado, decidi dedicar-lhe a minha postagem de hoje.

Para já devo dizer que musicalmente não sou um grande fã da Madonna. Ao contrário de muitas outras, armadas em vedetas, reconheço-lhe um enorme talento. Ela, além de uma grande senhora, consegue ser também uma excelente cantora e bailarina.

Muitas tentaram imitá-la mas não conseguiram, o melhor exemplo será a Britney Spears. Apesar de em tempos ter conseguido algum sucesso comercial, nunca passou de uma cantora medíocre com umas umas musiquinhas orelhudas para fazer sucesso entre teenagers borbulhentas.

Regressando à música da diva, gosto especialmente da maior parte dos trabalhos da década de oitenta. Depois disso só mesmo o "Hung Up"; uma grande música de dança, que usa o famoso sample do tema "Gimme, Gimme, Gimme" dos Abba.
No entanto o que eu admiro mesmo é a mulher que sempre ousou colocar em cheque a hipocrisia e o conservadorismo sexual da sociedade americana.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

OURO E PRATA JÁ CÁ CANTAM!


Duas já cá cantam e mais devem vir aí.
Parabéns ao João Paulo Fernandes e ao António Marques. Somos os melhores no boccia.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

DE VOLTA!

Meus amigos estou de volta. Depois de quase um dia inteiro para pôr os mails em dia, já estive a ler os vossos posts em ritmo de cruzeiro via google reader.

O Queer está aí quase a chegar, as aulas também, por isso o ritmo deste blogue vai ter tendência para abrandar. Quanto aos vossos comentários vou passar a responder apenas aos mais pertinentes.

Por falar no Queer, estive hoje a ver o programa mas ainda não consegui decidir o que vou ver. Uma das boas surpresas foi a rubrica Queer Art, que vai contar com a exibição de A Bigger Splash, um filme que há algum tempo me anda a despertar a curiosidade.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

ATÉ PARA A SEMANA, CAMARADAS!


Camaradas, desculpem o atraso nas respostas aos vossos comentários mas o tempo é cada vez mais escasso. Vou estar uns dias fora, volto para a semana.
Entretanto já entrei na minha semana comunista anual. Se precisarem de qualquer coisa já sabem que me podem encontrar ali para os lados da Atalaia.

Adeus Camaradas, até para a semana!

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

REFEIÇÃO NUA

Apollonia and dominatrix creating pain in the heart of the west
Joel-Peter Witkin

«Leif, o Azarento, era um norueguês alto e magro, com uma venda a cobrir-lhe uma das vistas e o rosto semelhante a gelo moldado num esgar desagradável. Do seu passado constava uma saga épica de empreendimentos mal sucedidos. Falhara quando tentara a criação de rãs, chinchilas, peixes de combate siameses, rami e pérolas de cultura. Também experimentara várias vezes e sem êxito fundar um cemitério de Dois Apaixonados Num Só Caixão, fazer mercado negro de preservativos durante a falta de borracha, dirigir uma casa de prostituição e lançar a penicilina com patente. Iniciara desastrosos processos de apostas nos casinos da Europa e nas pistas de corridas de cavalos dos E.U.A.

Os azares nos negócios equiparavam-se às incríveis contrariedades da sua vida pessoal. Autênticas bestas de marinheiros americanos tinham-lhe partido os dentes da frente em Brooklyn. Tinham-lhe comido um olho depois de tomar paregórico e ter ficado inconsciente num parque da cidade do Panamá. Ficara encurralado entre andares dentro de um elevador durante cinco dias e quando estava viciado em junk. Houve uma altura em que teve um estrangulamento intestinal, perfuramento de uma úlcera e peritonite no Cairo. O hospital estava tão cheio que lhe puseram a cama na latrina; o cirurgião grego que o tratava cometeu um erro estúpido e quando o coseu deixou-lhe um macaco vivo dentro da barriga; foi fodido pelos ajudantes árabes e uma das ordenanças roubou a penicilina, substituindo-a por Saniflush; e doutra vez apanhou gonorreia, e um médico inglês cheio de princípios de dignidade, curou-o com um edema de ácido sulfúrico quente. O médico interno alemão de Medicina Tecnológica tirou-lhe o apêndice com um abre latas enferrujado e uma tesoura (na opinião dele a teoria dos germes não passava de pura «estupidez»). Deslumbrado pelos êxitos começou a cortar tudo o que tinha à mão: - O corpo humano está cheio de orgãos desnecessários. Pode-se viver com um rim. Para quê dois então?... Os orgãos internos não deviam estar tão apertados. Necessitam de espaço vital como a Pátria.»

"Refeição Nua" de William Burroughs, com o infeliz título em português de "Alucinações de um Drogado" foi o meu primeiro grande choque literário, um autêntico murro no estômago.

A TORRE DE LA DÉFENSE


«A Torre de La Défense, quarta apresentação da KARNART C.P.O.A.A. em 2008, é um espectáculo baseado em La Tour de la Défense do dramaturgo argentino Copi (1939-1987).
Após a dupla abordagem de L’Homosexuel ou la difficulté de s’exprimer, em 2005 com três actrizes e em 2007 com três actores, num processo de pesquisa que visou investigar de que forma o género do intérprete influencia a criação de um personagem transgénero, a KARNART C.P.O.A.A. volta a Copi com um desconcertante texto que situa um casal gay, uma burguesa em ácidos e a sua filha, um travesti, um árabe e um americano na noite de passagem de ano de 1977, num apartamento do Bairro de La Défense, em Paris.


Jean, Luc, Daphnée, Micheline, Ahmed e John são o motor de uma complexa teia de encontros e desencontros. No húmus que este microcosmos social representa a KARNART encontra matéria-prima de primeira água para mais uma das suas criações artísticas de intervenção.
Prosseguindo a investigação do conceito em pesquisa no seio do colectivo desde a sua formação – o Perfinst©, neologismo resultante da união das quatro primeiras letras das palavras performance e instalação –, o espectáculo vê cada um dos dois actos do texto que lhe deu origem

alicerçados nas linguagens das artes performativa e plástica. Enquanto o primeiro acto é centrado no trabalho do actor, sem recurso a adereços e com uma marcada intervenção de movimento, o segundo revela-nos um universo de instalação pura no qual os elementos teatrais existem como peças soltas.»

Luís Castro

De 9 a 14 de Setembro na Culturgest