Joel-Peter Witkin
«Leif, o Azarento, era um norueguês alto e magro, com uma venda a cobrir-lhe uma das vistas e o rosto semelhante a gelo moldado num esgar desagradável. Do seu passado constava uma saga épica de empreendimentos mal sucedidos. Falhara quando tentara a criação de rãs, chinchilas, peixes de combate siameses, rami e pérolas de cultura. Também experimentara várias vezes e sem êxito fundar um cemitério de Dois Apaixonados Num Só Caixão, fazer mercado negro de preservativos durante a falta de borracha, dirigir uma casa de prostituição e lançar a penicilina com patente. Iniciara desastrosos processos de apostas nos casinos da Europa e nas pistas de corridas de cavalos dos E.U.A.
Os azares nos negócios equiparavam-se às incríveis contrariedades da sua vida pessoal. Autênticas bestas de marinheiros americanos tinham-lhe partido os dentes da frente em Brooklyn. Tinham-lhe comido um olho depois de tomar paregórico e ter ficado inconsciente num parque da cidade do Panamá. Ficara encurralado entre andares dentro de um elevador durante cinco dias e quando estava viciado em junk. Houve uma altura em que teve um estrangulamento intestinal, perfuramento de uma úlcera e peritonite no Cairo. O hospital estava tão cheio que lhe puseram a cama na latrina; o cirurgião grego que o tratava cometeu um erro estúpido e quando o coseu deixou-lhe um macaco vivo dentro da barriga; foi fodido pelos ajudantes árabes e uma das ordenanças roubou a penicilina, substituindo-a por Saniflush; e doutra vez apanhou gonorreia, e um médico inglês cheio de princípios de dignidade, curou-o com um edema de ácido sulfúrico quente. O médico interno alemão de Medicina Tecnológica tirou-lhe o apêndice com um abre latas enferrujado e uma tesoura (na opinião dele a teoria dos germes não passava de pura «estupidez»). Deslumbrado pelos êxitos começou a cortar tudo o que tinha à mão: - O corpo humano está cheio de orgãos desnecessários. Pode-se viver com um rim. Para quê dois então?... Os orgãos internos não deviam estar tão apertados. Necessitam de espaço vital como a Pátria.»
"Refeição Nua" de William Burroughs, com o infeliz título em português de "Alucinações de um Drogado" foi o meu primeiro grande choque literário, um autêntico murro no estômago.
13 comentários:
Dedididamente não é um livro para o desjejum... Fiquei intrigado. Não sei se fiquei instigado, mas intrigado fiquei.
Abraço
Ainda ontem, no Ophiocus, comentei que gostava bem deste livro, mas concordo contigo. É... heavy, mas bom.
Li-o na adolescência, depois de ter lido Viagem ao mundo da Droga e Christian F. Estes dois foram daikiris comparados com o balde de absinto em que mergulhei.
Bem, por este bocado imagino o resto!
Beijos
Já em tempos o tentei ler...
Não sei se lhe voltaria a pegar...
Uf!!!
Que mais posso eu dizer?
Não li e depois desta apresentação nem sei.
Achas que devo ler? Alguém tão inocente como eu!! :)
Um abraço.
Pode ser e acredito que seja um bom livro, mas para desgraças, bastam os noticiários...
Abraço.
Burroughs no seu melhor, cru e experimental... tudo ao molho e sem fé em deus. Aliás quem mais se mete em jogos à Guilherme Tell e acerta na mulher e é homossexual... tudo ao molho dá um cocktail difícil de digerir, mas não me conseguiste tirar a curiosidade! às vezes, gosto de choque! (mas também é tão surreal (irreal) que nem o levo a sério)
esqueci-me de felicitar pela escolha da imagem do Witkin! muito apropriada!
Fascinante, como tu!
Gostei da imagem e da citação de Burroughs, que é um autor que aprecio bastante. Recomendo-te a leitura de Queer, é um livro fantástico. ;)
Oz: Não é para o desjejum, mas até é um livro interessante, se tiveres estomago para aguentar duas ou três partes.
Já agora há um filme do Cronenberg, "Naked Lunch", de 1991, talvez seja mais fácil.
Um abraço
Catatau: Engraçado que também o li a reboque desses mesmos livros. Aliás sempre achei que a intenção do título era mesmo essa.
Um abraço
Gitas: Bem podes imaginar, há mais umas passagens bem piores.
Beijos
Tonghzi: Estás sempre a tempo de retomar.
Um abraço.
SP: Podes ler por tua conta e risco, mas depois não me venhas pedir explicações.
Um abraço peludo.
Pinguim: Por acaso é um bom livro, e o Burroughs é excelente, assim como os seus amigos Kerouack e Ginsberg.
Um abraço
Paulo, obrigado pelo teu comentário. Quanto à imagem, pensei logo no Witkin para ilustrar o post.
Um abraço
Nas gavetas: Obrigado, fazes-me corar.
Um grande abraço para ti também.
Maldonado: Também gostei muito do Queer, que li recentemente. Um abraço
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É fantástica a foto escolhida para o tema abordado. E recomendo a leitura das Cidades da Neblina Vermelha, esse sim já um romance com enredo. Burroughs é estranho e diferente. O assunto não é intrinsecamente apenas a droga, o Junkie: são dos recônditos menos agradáveis que transportamos connosco.
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