quinta-feira, 26 de julho de 2007

TELENY


»O meu maior prazer na infância era ver os homens a tomar banho, de tal modo tinha dificuldade em refrear-me e não ir a correr para eles, desejoso de lhes tocar e de os cobrir de beijos. Ficava fora de mim quando via um homem nu.
»O falo suscitava uma reacção muito forte em mim, como depreendo, suscitará em qualquer mulher quente. A minha boca salivava quando via um, especialmente se fosse de bom tamanho, pujante, com uma glande circundada e carnuda.
»Apesar disso, nunca compreendi que amava os homens e não as mulheres. O que sentia era essa convulsão do cérebro que ateia no olhar um fogo cheio de loucura, um deleite ansioso e bestial, um feroz desejo sensual.
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"Teleny ou o Reverso da Medalha"
Atribuído a Oscar Wilde
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Em pausa para pôr a leitura em dia vim até aqui para partilhar este texto em que me revejo tão bem.
Engraçado como até há bem pouco tempo eu nunca me consideraria homossexual, apesar de sempre ter sentido desejo por homens.

21 comentários:

RIC disse...

É curioso como variam os graus da nossa autoconsciência... Eu apercebi-me do que mexia comigo ainda na infância, ainda que não entendesse o que era. Um encontro de vontades, aos doze anos (e que durou bastante tempo ainda), com um amigo da mesma idade fez-me entender o que tinha de ser entendido, mais tarde ou mais cedo.
Aos dezasseis, sabia exactamente o que queria, ainda que não tenha siso fácil aceitar e assumir a evidência pelo facto de nunca ter tido um «lado feminino» visível...

(Os calores estivais estão a motivar prosas muito... interessantes... To say the least...)

Abraço! :-)

Special K disse...

O engraçado é que sempre senti atracção por outros rapazes desde tenra idade e tive as minhas experiências. Mas talvez por ter crescido em meios pequenos e conservadores nunca assumi a minha sexualidade comigo próprio. Tive várias relações com homens sempre assumindo um papel passivo mas nunca me considerei homossexual. Foi preciso fazer 37 anos para perceber que andava à procura do amor no sítio errado.
Um abraço.

RIC disse...

... Quão perniciosas são as ideias feitas dos outros!... E o peso que têm sobre nós!... Assim se entende o que pode ser viver desencontrado de si próprio, apenas porque uma maioria dita «normal» acha que o que não é como ela é «anormal». E o efeito é o de uma autêntica bola de neve: não pára de aumentar...
Abraço! :-)

Unknown disse...

Amigooooooooooo! Blz? Realmente, a visão de um homem tomando banho é de dar agua na boca! Ah, veja meu post, já coloquei no ar! Beijos!

Inha disse...

E agora que já tomaste conta de quem és e o que queres, suponho que tudo é mais fácil, não? Foi assim comigo, aos 28 anos. Acabaram-se umas angústias e começaram outras (lol)...
Beijos
Inha

FOXX disse...

naum conhecia o texto, gostei mto
vc se chamaria como hoje?
homossexual ainda ofende?

Anônimo disse...

Acho que sempre soubeste, mas por causa da tua cabeça, do meio envolvente, da tua família, nunca aceitaste.
Algo no teu interior se resolveu e finalmente assumiste:)
Beijos

Angell disse...

Pois é; ás vezes levamos tempo a compreender e a assumirmos o que somos... Compreendo-te tão bem, rapaz! :)

Bjs!

S.M. disse...

He he he ; como te entendo, rapaz: É o meu filme, só que no feminino. Mas vale mais tarde que nunca!
Bjs

Special K disse...

Ok Trintinha, já lá vou e depois digo qualquer coisa.
Um abraço.

Inha, é mesmo verdade; acabam-se umas angustias e começam outras. O que vale é que se vai arranjando força e coragem para as suportar.
Beijinho.

Foxx a palavra homossexual nunca me ofendeu. Só que julgava-me um hetero com gostos estranhos Rsrsrss
:)
Um abraço.

Special K disse...

Angel e S.M.
Se calhar todos, ou quase todos, passámos por essa fase de negação. Só me arrependo de não ter saído mais cedo do armário.

Gitas
tens razão sempre soube mas nunca o quis aceitar. Até aos 12 anos vivi num meio pequeno e rural e lembro-me em certas brincadeiras com outros rapazes que já havia ali qualquer coisa. O meu avô, talvez por ter saído da terra, tinha uns horizontes mais largos mas mesmo assim era conservador nesse aspecto, "Um homem é um homem!".
Beijinhos

Anônimo disse...

Simples meu amigo...
Mais vale tarde do nunca. Vivemos numa sociedade em que assumir posições, sejam elas as que forem é um acto de coragem.
Não interessa se é ontem, hoje ou amanhã que assumimos o que somos e como queremos viver, o que interessa de facto é ser simplesmente o que somos e sentimos, nada mais.
Tudo começa nesse simples acto, chama-se viver.

Cumps.
sniqper

Caracolinha disse...

Sabes que acho que escreves com a força da clareza e com a delícia da simplicidade ... aí está ... bem dizia o Freud ... mesmo as coisas que não se vêem acabam sempre por estar lá ... e quando estão, não há nada a fazer ... apenas ser feliz, como me parece ser o reu caso agora ... :)

Beijoca encaracolada em amizade e admiração e muitos :) ... !!!!

Special K disse...

Tens razão amigo Sniqper. Mas o que me custou mais foi assumir para mim que era homossexual. Depois disso até que foi fácil assumir-me perante os outros.
Um abraço.

Special K disse...

Olá caracolinha.
Feliz não diria, a palavra certa talvez seja alíviado. Até as minhas ansiedades e ataques de pânico acalmaram. Agora, feliz... Só quando encontrar a minha cara metade. Pelo menos acho que estou no bom caminho.
beijinhos

Sarracenia purpurea disse...

Ainda bem que já sabes onde encontrar o amor :)
Beijinhos

João Roque disse...

Meu bom amigo
li esse livro há muitos anos atrás, e curiosamente, não me recordava dessa passagem.
Mas recordo-me de mim, puto ainda, quando ia às piscinas e depois ia tomar duche, ficava lá longos minutos olhando os corpos nús que iam desfilando, suponho que nem sabia explicar o prazer que isso me dava.
A aceitação por nós próprios da nossa homossexualidade, é, estou seguro, o passo mais difícil; depois é uma questão de gerir essa nossa maneira de ser , em relação à família, amigos e sociedade.
O medo só me deixou praticar o sexo com um homem, já tardiamente, aos 23 anos, mas sempre soube o que queria. agora tenho uma relação óptima com a minha homossexualidade, vivo-a com a normalidade de quem sabe que é isso que quero e tenho a felicidade de me aceitarem como tal, todas as pessoas que me interessam. Mesmo socialmente, não ando a afirmar o que sou em cada esquina, mas não modifico nada de mim, com receio dos outros. É bom e sinto-me bem.
Abraço, e desculpa o testamento.

Special K disse...

É verdade sarracenia, mais vale tarde do que nunca, sei de alguns que ainda não acordaram.
Beijinhos

Special K disse...

Olá Pinguim.
Eu comecei as minhas relações na adolescência, só aos 20 e poucos estive pela primeira vez com uma mulher. Apesar disso sempre me recusei a acreditar que era homossexual, às vezes lá admitia que poderia ser bissexual.
Ainda me lembro com 11 ou 12 anos, muito tímido, tinha vergonha de me despir à frente dos colegas mas deliciava-me a vê-los tomar banho depois das aulas de ginástica.
Hoje passou-me, se há coisa que eu não tenho é vergonha de me despir à frente de quem quer que seja :)
Um abraço.

paulo disse...

Pegando neste teu último comentário, Special K, é caso para dizer que te despiste de preconceitos. Nunca é tarde para reconhecer, mas pode ser tarde para viver o tempo perdido noutros mundos, esse tempo que não volta atrás!

Special K disse...

Olá amigo Paulo, o problema é que perdi todos estes anos à procura de amor no sítio errado, óbviamente nunca o encontrei. Ainda há muita confusão nesta cabecinha mas pelo menos agora já sei o que quero.
Obrigado pelo comentário, um abraço