segunda-feira, 29 de outubro de 2007

O RETRATO DE DORIAN GRAY


«Dorian não respondeu, mas abeirou-se em silêncio do seu retrato e voltou-se para ele. Ao vê-lo recuou, e as faces coloriram-se-lhe, por um momento, de prazer. Fulgiu-lhe nos olhos um lampejo de júbilo, como se pela primeira vez se houvera reconhecido. Quedou-se ali imóvel e maravilhado, vagamente cônscio de que o pintor lhe estava falando, mas não percebendo o que ele dizia. Deparou-se-lhe de chofre como uma revelação o sentido da sua beleza. Nunca até então o sentira. Tomara os cumprimentos de Basil Hallward como encantadores exageros da amizade. Escutara-os, rira-se deles, esquecerea-os. Nenhuma influência sobre a sua natureza haviam exercido. Viera então Lord Henry Wotton com o seu estranho panegírico da mocidade, o seu terrível aviso da brevidade com que ela se desfolha. Isso abalara-o na ocasião, mas agora, ao remirar-se na imagem da sua formusura, surgia-lhe ante os olhos a plena realidade da descrição. Sim, chegaria um dia em que as rugas lhe encarquilhariam o rosto, o brilho se lhe apagaria dos olhos, toda a graça da sua pessoa se quebrantaria e deformaria.
Esvair-se-lhe-ia o escarlate dos lábios e o oiro dos cabelos. A vida que lhe devia animar a alma arruinar-lhe-ia o corpo. Tornar-se-ia terrível, hediondo, grotesco.(...)

- Que tristeza - murmurou Dorian Gray, com os plhos fixos no retrato. - Que tristeza! Hei-de tornar-me medonho e horrível! Este retrato, porém, há-de ficar sempre jovem. Nunca será mais velho do que neste magnífico dia de Junho... Se fosse o contrário!... Se fosse eu que ficasse sempre jovem e o retrato que envelhecesse!...Para isso - para isso - fazia tudo! Sim, nada há no mundo que eu não desse! ATÉ A MINHA ALMA DARIA!»

O Retrato de Dorian Gray
Oscar Wilde
Edições D. Quixote

Cuidado o que desejamos pois quando mesmo esperamos pode-se concretizar.
A alma pela juventude, será que valeria a pena?

Li o "Retrato de Dorian Gray" há muitos anos, agora senti necessidade de o voltar a ler. Já havia muitos pormenores de que não me lembrava, além disso, um bom livro pode-se ler várias vezes que se encontram sempre coisas novas.

Imagem principal: "O Retrato de Dorian Gray", 1945
Realização: Albert Lewin. Com George Sanders, Hurd Hatfield, Dona Reed, Angela Lansbury e Peter Lawford.

3 comentários:

João Roque disse...

É um clássico, um dos melhores livros de um escritor fabuloso: Oscar Wilde!

Special K disse...

É um grande livro, uma bela história. Seria bom ser sempre jovem, semter que perder a alma claro.
Um abraço

Luís disse...

Descobrir Wilde via The Smiths e é um dos meus escritores preferidos. E, claro, essa uma das suas obras máximas. Obrigado por o lembrares! Abraços,