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terça-feira, 25 de março de 2008

SEIS HORAS TRÊS MINUTOS



Seis horas três minutos

no rico reino dos ondatras
sobre os campos da batalha sob o aparente reinado
da massa
o dedo trémulo de uma criança
luta contra a dor silenciosa de sempre
subindo às maiores alturas
novos e estranhos náufragos em gozo de licença
quatro homens
que olham
enquanto
por todos os lados
quatro cadáveres
passam


Mário Cesariny

"Pena capital"

Imagem: Sara Franco

sábado, 22 de março de 2008

CANTIGA DE AMIGO E DE AMADO


Ca morreu o meu amigo
o que surrealista migo
na escurana da manhã,
ca morreu o meu amigo
por todolo bem que fez consigo
vou pôr outro Dolviran.

Ca morreu o meu amado,
o que se fazia no prado
sobre las terras da louçã,
ca morreu o meu amado,
pelo sabor que me ha cobrado
vou pôr outro Dolviran

Ca morreu trigoso e gentil
e não mais irá a fossado
nem de seu elmo constelado
terá nome Alexandre O'Neill
ca morreu má hora e mau grado,
em as ondas do mar quebrado
vou pôr outro Deprimil

E s' dormiu, o de corpo delgado,
sob'lo pano mais fraguado
que todolos que possam estar
nessa côrte que não tem lado,
em o quarto mais retirado
o seu sopro quero catar

E se lá secam as delgadas
e as aljavas deslustradas
que gostosa eu lavava aqui,
não mais serei destas estradas
e destas terras desterradas
irei pôr o Dolviran i.

Mário Cesariny
"Pena Capital"
Foto: David Morgan

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

LEMBRA-TE DE CESARINY

Mário Cesarinny, Auto-retrato

"Gostava de ter uma daquelas mortes boas, em que uma pessoa se deita para dormir e nunca mais acorda"

Mário Cesariny de Vasconcelos, "Autografia"


Lembra-te

Lembra-te
que todos os momentos
que nos coroaram
todas as estradas
radiosas que abrimos
irão achando sem fim
seu ansioso lugar
seu botão de florir
o horizonte
e que dessa procura
extenuante e precisa
não teremos sinal
senão o de saber
que irá por onde fomos
um para o outro
vividos

Mário Cesariny
Imagem: Henri Cartier-Bresson


Faz um ano que ele partiu, parece que foi ontem.

sexta-feira, 18 de maio de 2007

FAZ-ME O FAVOR



Faz-me o favor de não dizer absolutamente nada!
Supor o que dirá
Tua boca velada
É ouvir-te já.

É ouvir-te melhor
Do que o dirias.
O que és nao vem à flor
Das caras e dos dias.

Tu és melhor -- muito melhor!--
Do que tu. Não digas nada. Sê
Alma do corpo nu
Que do espelho se vê.

Mário Cesariny

domingo, 8 de abril de 2007

O ALVARO GOSTA MUITO



O Álvaro gosta muito de levar no cu
O Alberto nem por isso
O Ricardo dá-lhe mais para ir
O Fernando emociona-se e não consegue acabar.

O Campos
Em podendo fazia-o mais de uma vez por dia
Ficavam-lhe os olhos brancos
E não falava, mordia. O Alberto
É mais por causa da fotografia
Das árvores altas nos montes perto
Quando passam rapazes
O que nem sempre sucedia.

O Fernando o seu maior desejo desde adulto
(Mas já na tenra idade lhe provia)
Era ver os hètèros a foder uns com os outros
Pela seguinte ordem e teoria:
O Ricardo no chão, debaixo de todos (era molengão
Em não se tratando de anacreônticas) introduzia-
-Se no Alberto até à base
E com algum incómodo o Alberto erguia
[…]

Mário Cesariny

Foto Kelly Grider