terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

TRUQUE DO AMIGO DA RUA


Ao acaso encontrei-te encostado a uma esquina
olhar vazio varrendo a multidão, parei
sorri e tu vieste, fomos andando
os ombros tocavam-se, em direcção a casa

pediste-me para tomar um duche, eu deitei-me
ouvi o barulho da água resvalando pelo teu corpo
sujo de cidades e de engates
sujo pelos dias e noites e mais dias que não tive
esperei-te deitado, outro cigarro
e ainda espero....
....gosto dos corpos que riem, frescos
rasgam-se á ternura nocturna dos dedos, e ao desejo
húmido da boca, que sempre percorre e descobre...

tacteio-te de alto a baixo
reconhecendo-te num gemido que também me pertence, no escuro
contaste-me uma improvável aventura de tarzan,
ouvia-te
e no silencio do quarto fulguravam aves que só eu
via...

.... sorri ao enumerar os restos que a manhã encontraria pelo chão
manchas de esperma, ténis esburacados, calças
sujíssimas,
blusão cheio de auto-colantes, peúgas encortiçadas
pelo suor
as cuecas rotas, sujas de merda....

e tuas mãos, recordo-me
sobretudo de tuas mãos imensas sobre as coxas
teu corpo nu, à beira da cama, em sossegado sono...

Al Berto

Um comentário:

wind disse...

Adoro este poema dele, aliás gosto de todos.
Sempre muito real e ao mesmo tempo de uma poesia linda. Chamava as coisas pelos nomes.
Beijos