sábado, 6 de janeiro de 2007

QUANDO EU TINHA DOIS PAIS

Na edição do "Público" de ontem veio uma notícia que me deixou muito satisfeito e me fez lembrar um caso da minha infância.
O título da notícia era: «Tribunal canadiano reconhece que uma criança possa ter um pai e duas mães». Eu pensei logo, "Estes canadianos ou, estão muito à frente, ou nós é que estamos muito atrás". Seja como for conheço em Portugal alguns casos destes e deixem-me dizer que são crianças belas e saudáveis.

Voltemos então à minha infância. Devia ter eu os meus seis ou sete anitos quando entrei para a escola numa pequena vila transmontana. O país ainda vivia num estado de euforia pós-revolução mas isso eram coisas que mal chegavam a uma pequena localidade rural.

Lembro-me que um dia o professor me perguntou pelo nome do meu pai. Eu na minha infantil inocência repliquei: "Qual deles?" Fiquei logo muito envergonhado pois foi risada geral. "Mas tu só podes ter um pai", diziam-me eles. Eu muito coradito lá ia mantendo a minha história: "Pois, mas eu tenho dois". "Diabo!", pensava eu, "Se eu tenho dois pares de avós, vários tios, então porque é que não posso ter dois pais?".
O caso lá deu que falar e perante a minha insistênciao lá foi o meu avô chamado à escola para desvendar o misterioso caso da criança com dois pais. Em conversa lá explicou ao perplexo docente que eu era fruto de um primeiro casamento e que a minha mãe casara com outro homem. E pronto lá ficou tudo explicado.

Isto aconteceu durante a década de setenta, e apesar de o divórcio já ser legal desde a revolução, as mulheres divorciadas ainda levavam com o estigma em cima. As próprias mães diziam para as filhas: " O casamento é para a vida, o divórcio é desonra, nem que ele te bata!".

Assim era a mentalidade portuguesa há trinta anos atrás. Será que já evoluímos um pouquinho?

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