segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

O CISNE NEGRO

THE BLACK SWAN


Há poucas semanas fiz uma pequena apresentação sobre Cinema Surrealista no âmbito da Cadeira de História da Arte. Foi pena não ter visto antes o Cisne Negro de Darren Aronofsky pois é um filme que está plenamente integrado no tema discutido. Para quem conhece o cinema de Aronofsky é fácil distinguir esta dualidade entre corpo e mente, que habitualmente conduz à autodestruição; assim foi com “The Wrestler” (2008), filme que ressuscitou a carreira de Mickey Rourque, e assim terá sido também em Requiem for a Dream (2000), para mim, o melhor Aronofsky antes de ver o Cisne Negro.

Em o Cisne Negro Natalie Portman é Nina, uma jovem bailarina obcecada pelo papel principal numa nova produção de o Lago dos Cisnes de Tchaikovsky (1840-1893). Para quem conhece a magnífica obra do compositor russo; Odette, a Rainha dos Cisnes é na verdade uma jovem princesa, que sob o feitiço do maléfico mago Rothbart, é transformada num belíssimo cisne branco, podendo apenas retomar a sua verdadeira forma humana durante a noite. Entretanto conhece Siegfried, belo príncipe que caçava por aquela zona, e ambos se apaixonam. Sabendo que apenas o amor verdadeiro poderia quebrar o feitiço, Siegfried promete declarar o seu amor a Odília durante o baile nessa mesma noite. No entanto no momento do baile o príncipe é iludido pelo feiticeiro, e na verdade dança com a sua filha, Odília; O Cisne Negro. Enquanto Odette é paixão, emoção e fragilidade, Odília é fogo e sedução, como se fosse a outra face de Odette.

Ao descobrir o engano, Siegfried percebe que já é impossível inverter o feitiço. Assim os amantes frustrados decidem suicidar-se afogar-se no próprio lago.
Na produção de o Lago dos Cisnes, a Rainha do Lago é o papel mais importante; aquele que todas as bailarinas almejam. Nina, na sua beleza, timidez e fragilidade é o Cisne Branco em toda a sua perfeição. No entanto é demasiado controlada, falta-lhe a espontaneidade natural para interpretar o Cisne Negro. Thomas Leroy (Vincente Cassel) é o coreografo e director da companhia, que lhe diz que ela deve soltar todo o seu lado negro para conseguir fazer a transmutação do seu cisne branco para o negro. Porém para Nina não basta ser a Rainha dos Cisnes, ela tem que ser perfeita em tudo, só assim poderá assegurar o papel como bailarina principal da companhia. Porém a competição pelo lugar é feroz, e Nina não tarda em ver em Lily (Mila Kunis) a sua grande rival. Esta é uma jovem bailarina acabada de chegar à companhia e tem tudo o que Nina não tem; é despreocupada, não tem obsessão pela perfeição nem uma mãe excessivamente controladora. Deste modo consegue soltar-se e ser o Cisne Negro perfeito, aquele que deve seduzir e enganar o príncipe. Por outro lado há a relação com a mãe, o caso típico da bailarina que nunca passou da vulgaridade e deseja ver espelhado na própria filha o sucesso que ela nunca alcançou. É essa obsessão pela perfeição do seu cisne negro que a leva a uma transmutação, Nina começa-se a soltar, a tentar livrar da hiper-protecção maternal. O problema é que o lado negro que ela deve despertar foi o mesmo que levou à autodestruição de Beth (Winona Ryder), a antiga estrela da companhia e ex-preferida de Thomas. É esse lado negro da sua mente que a vai começar a dominar até ao ponto de não conseguir destrinçar mais a realidade da ficção.

É exactamente neste ponto da exploração da mente de Nina, que na ânsia de se livrar da sua própria realidade, ela deixa de conseguir destrinçar entre o real e o imaginário.
Posso falar dos pormenores do filme e do argumento, que na minha opinião é excelente. Não esquecer que se trata de um filme de ficção, que tem por pano de fundo um bailado, e não uma adaptação cinematográfica desse mesmo bailado. Vou deixar os pormenores técnicos para os peritos em dança, no entanto adorei ver certos detalhes, que decerto fazem parte da vida de qualquer bailarino; como a transformação das próprias sapatilhas, da alteração das palmilhas, de certo para melhor se adaptarem aos pés.

É claro que O Cisne negro é uma das grandes obras do um grande filme, porém penso que nunca ficaria completo sem conhecer o resto da obra do realizador: Pi (1998); Requiem for a Dream (2000), O Último Capítulo (2006) e o Wrestler (2088). Em todos eles há um certo conflito entre a mente e o corpo; quando muitas vezes o poder da mente tem que ultrapassar as limitações do próprio corpo.

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